Crédito das fotos: Rogério Alves
Quatro bailarinas trazem ao palco a dor e a delícia de "ser mulher". Em uma movimentação densa, com excelente aproveitamento da formação téncica privilegiada de cada uma, elas parecem ir além dos desenhos que o corpo executa. Das suas caixas tiram mais que narrativas decifráveis, cada gesto está prenho de significados profundos, cada movimento parece rasgar a parede social que oculta a alma fêmea. Tem dor ali, muitas dores, e mesmo em silêncio, os corpos parecem uivar, urrar, às vezes, revelando conflitos internos, em outras mostrando uma luta diária da mulher, ou melhor dizendo, dos ícones da feminilidade, com o universo contemporâneo, ainda predominantemente masculino e machista.
EM CAIXA é um sangramento constante, anunciado na poça vermelha que tão bem compõe sua cenografia, e, principalmente, na tradução em dança deste "sangrar" interpretada com maestria por Fernanda Lobo, Isabel Ferreira, Juliana Siqueira e Roberta Cunha. Os vestidos longos criados por Maria Agrelli, e os cabelos longos das intérpretes, inscrevem figuras românticas e frágeis no nosso imaginário, mas não por muito tempo. O sangue que não pára de pingar ou jorrar do teto e a angústia que transborda das coreografias nos lembram a todo instante que ali há dor. Dores diárias das descobertas e do crescimento, dores que são quase prazer, dores de amores, desamores, repressões e medos...mas também dor da violência física e/ou psicológica. Aquele palco de movimento "em sangue" é campo de batalha constante. Isso é nítido na teatralidade intencional dos gestos e sequências, ora amplas e limpas, ora frenéticas, repetidas, compulsivas. Várias histórias são possíveis de ler EM CAIXA, às vezes lógicas e banais, outras vezes no limite extremo da passionalidade e da insesatez... e talvez a percepção dessa complexidade feminina seja o maior dos fascínios do espetáculo.

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