Tudo é tão grandioso em
Lua Cambará, que custamos a perceber que se trata de um espetáculo feito por alunos de um projeto social de formação em dança. Com cerca de 40 jovens artistas em cena, o Ária Social ousa apostar numa linguagem operística neste musical dramático, baseado na obra homônima de Ronaldo Correia de Brito. O afinado canto dos intérpretes regidos por Rosemary Oliveira nos transporta para um universo com ares medievais, mas que se passa no sertão cearense, fazendo parte, como afirma o autor, de uma mitologia típicamente nordestina.
Um certo hiato pode ser notado entre a ação dramática pretendida e anunciada pelo enredo, e as formas juvenis desenhadas pela movimentação corporal dos bailarinos. Mas nada que afete o resultado final, em que prevalece a excelência técnica do elenco e os detalhes perfeitos desta mega produção. Abro um parêntese, para render meus "vivas" à iluminação assinada por Saulo Uchôa. Ele concebeu uma luz viva que consegue o tom certo para cada cena, e é responsável , inclusive pela mudança de figurino. Explico: os vestidos das bailarinas que eu jurava serem vermelhos sangue, tornam-se verdes, momentos depois, por causa das luzes desenhadas por Saulo. Uma iluminação que efetua a equação perfeita entre sutileza e força, exatamente como sugere a trama intensa de Lua Cambará. Uma composição em perfeita sintonia com os figurinos e cenário criados por Beth Gaudêncio.
Crédito: Fernando Azevedo
Optando por coreografias de conjunto, com sincronia e forte impacto visual, Ana Emília Freire e Carla Machado, encontraram um bom caminho para aproveitar o potencial técnicos dos alunos do Ária Social. Em cena, quatro intérpretes dão vida à personagem título, a heroína trágica Lua Cambará, revelando as ambigüidades, e as várias faces que um ser humano pode apresentar, ou em uma analogia poética, as várias fases da lua. A diretora geral do Ária e do espetáculo, Cecília Brennand, faz uma participação especial, personficando em sua interpretação e movimentação um lado mais maduro e dramático da protagonista.
Ainda que a narrativa proposta não seja de fácil interpretação para o público, Lua Cambará comove e encanta pelo primor técnico do elenco (tanto no canto como na dança) e pela grandiosidade da produção, em todos os sentidos.
Crédito: Fernando Azevedo
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